23 de Dezembro de 2024 – Em resposta ao comunicado publicado pela Jerónimo Martins (Pingo Doce), no dia de lançamento da campanha da Frente Animal, denominada #FimdoDoce e que tem como objetivo a exposição de imagens de maus tratos a animais na cadeia de fornecedores de carne de frango às lojas da empresa, serve o presente comunicado para esclarecer algumas questões levantadas.
Desde de Novembro de 2023 que a Organização Não Governamental (ONG) Frente Animal (anteriormente designada Abrir De Asas) tomou a iniciativa de contatar várias empresas, nas quais se inclui a Jerónimo Martins (Pingo Doce).
As conversas estabelecidas serviram para apresentar à empresa as soluções previstas no European Chicken Commitment, que promovem a redução do sofrimento destes animais e a saúde pública, visto que este é um compromisso que tem vindo a ser implementado noutras empresas em toda a Europa e cujos critérios da carta são os mais alinhados com os estudos de especialistas no bem-estar animal nestes contextos de produção.
Após nos chegarem imagens de fonte anónima, captadas em Portugal, junto de fornecedores de frango do Pingo Doce, abordamos novamente a Jerónimo Martins com vista a expor situações reais que contradizem os seus princípios e objectivos de promoção de bem-estar animal, e apresentamos novamente as soluções, com vista a chegar-se a um acordo. A alternativa seria expor essas imagens ao público, pois consideramos que é um direito do consumidor o acesso a esta informação. Acreditamos plenamente que o cliente quer saber o que está a comprar.
A empresa continua focada em conhecer as localizações específicas dos aviários onde foram captadas tais imagens, e não em resolver o problema da produção como um todo. Acusa-nos de falta de transparência, pelo que expomos abaixo os nossos motivos para insistir na responsabilização da Jerónimo Martins:
- Estas situações de maus tratos são inerentes a toda a indústria de produção intensiva de frangos, que prendem-se com a raça utilizada na produção, a densidade dos pavilhões e a falta de condições destes animais para cumprirem os seus comportamentos e necessidades básicas próprias da espécie, como poderem descansar em poleiros ou raspar a terra, por exemplo, que são comportamentos típicos e naturais destas aves, estando definidos nas 5 liberdades básicas do bem-estar animal que a própria empresa refere cumprir, no seu website.
- Estas imagens foram recolhidas em diferentes aviários, de empresas fornecedoras diferentes e de Norte a Sul do país, ou seja, são provas de que não são casos isolados mas recorrentes neste tipo de produção.
- Quando se faz referência a produtores específicos, uma resposta comum dos retalhistas alimentares é terminar o contrato que tem com o produtor, imputando-lhe a responsabilidade, e isentando-se de intervir no sentido de remediar os problemas. Porém, transitar de um fornecedor para outro não o resolverá, pois conforme acima explicamos, são problemáticas inerentes a toda a produção.
- O mercado actual de produção industrial de frango é essencialmente dominado por duas grandes empresas, pelo que a Jerónimo Martins (Pingo Doce) sabe exactamente quem são estes fornecedores, tem canais privilegiados de comunicação com os mesmos, e deveria inquirir no sentido de auditor os produtores, sendo que certamente irá constatar situações semelhantes às que foram denunciadas nas filmagens divulgadas pela nossa ONG.
Finalizamos por realçar que como organização não governamental e sem fins lucrativos, a nossa missão não é difamar empresas, mas sim defender os interesses dos animais que diariamente são explorados e pedir transparência acerca dos métodos de produção a que estão submetidos.
Não é a intenção da Frente Animal prejudicar os trabalhadores que têm nestes aviários o seu meio de subsistência, apenas propor soluções viáveis para promoção dos interesses destes animais, e dos consumidores.
Acreditamos que uma empresa do retalho alimentar destas dimensões poderá dar este bom exemplo, utilizando os seus amplos recursos financeiros para dar estes primeiros passos, ao invés de os utilizar numa acção jurídica contra uma pequena ONG que apenas tem como missão informar o consumidor e promover a transparência na indústria pecuária.
Naturalmente, estamos portanto disponíveis para dialogar com a Jerónimo Martins, assim como para cessar imediatamente esta campanha informativa, caso seja possível chegar a um acordo sobre medidas a implementar junto dos fornecedores da cadeia.
Nuno Alvim, gestor de campanhas
Joana Machado, gestora de acção corporativa