Capão de Freamunde: tradição ou crueldade?

Espalhadas pelo mundo, existem inúmeras tradições. Muitas delas recorrem à exploração de algum animal, seja para consumo do seu corpo ou para entretenimento. Portugal não é diferente. Mas será a palavra “tradição” uma justificativa suficiente e válida para continuarmos a tratar os animais da mesma forma que eram tratados há anos, décadas e até séculos atrás?

Se há séculos atrás olhávamos para os animais como matéria-prima que servia apenas para nosso proveito, não estará esta ideia já ultrapassada nos dias de hoje?

Atualmente sabemos que os animais sentem, têm a sua própria personalidade, são capazes de ter experiências positivas e negativas.

Contudo, todos os anos, em Freamunde, freguesia de Paços de Ferreira, uma “tradição” é celebrada, acredita-se que desde a Idade Média. Falamos da Festa do Capão. Ora bem, a festa não é propriamente para o Capão, mas para os visitantes que o irão consumir.

 

O que é o Capão?

  • Resumidamente, o Capão de Freamunde é nada mais do que um galo que foi castrado
  • É proveniente de estirpes de crescimento lento e castrado antes de atingir a maturidade sexual
  • A sua castração é feita entre os 3 e os 4 meses


Porque é que este galo é castrado? E qual é a diferença que torna o Capão famoso?

  • O Capão é criado ao ar livre após as três semanas de vida e até aos 10-11 meses
  • Por ser castrado, este galo não cacareja, não terá interesse em reproduzir, nem competir com outros galos e engorda mais do que as restantes estirpes
  • O período de engorda destes animais ronda os 7 meses, atingindo entre 5 a 6 Kg de peso vivo ou mais, dependendo da ração

 

Então este é um galo feliz?

  • Será que dar acesso ao exterior é então suficiente para se considerar que o animal é feliz e tratado com respeito?
  • Quando nascem, os pintos permanecem até à terceira semana de vida num local com iluminação artificial
  • Apenas por volta das 5 semanas, ele terá acesso ao exterior
  • A castração é feita sem anestesia e é importante salientar que os testículos dos galos são internos
  • Além da castração, com uma tesoura é efectuado o corte da crista
  • O abate é realizado entre os 10 e os 11 meses de idade, já que com idades superiores se considera que a “carne” perde qualidade. 


Como se processa a castração?

  • Os testículos dos galos são internos e estão situados muito próximos dos rins 
  • Os galos são submetidos a jejum prévio de 24h, para que os intestinos estejam limpos e seja mais fácil para a pessoa que faz a castração, explorar a cavidade abdominal do animal e identificar os testículos 
  • As patas são amarradas e o galo é colocado de pernas para baixo, preso entre os joelhos da executante, que irá exercer pressão para que ele não se consiga mover/fugir
  • São arrancadas as penas que ficam acima ou abaixo do ânus do galo, pois será nesta zona que será feito o corte 
  • O tamanho deste corte deve ser suficiente largo para que se consiga introduzir os dedos que irão tirar os testículos do interior do corpo do galo
  • A pessoa encarregue deste procedimento, irá identificar os testículos dentro do animal, através da apalpação 


O que pode correr mal?

  • Os testículos do galo encontram-se um de cada lado, imediatamente a seguir aos rins
  • Os testículos são puxados, soltando-os da zona onde estão inseridos
  • Se for exercida demasiada pressão, a artéria que irriga os rins pode rebentar e provocar graves hemorragias ao animal
  • Pode ainda acontecer que os testículos estejam pouco desenvolvidos e/ou por falha humana, ser apenas extraído um testiculo, dando origem ao “rinchão” – um galo que foi submetido a este (talvez sádico) procedimento mas cuja castração foi mal feita e que não terá o mesmo valor quando vendido 
  • As doenças que podem eventualmente surgir nos capões são as peritonites provocadas por descuido na técnica operatória e/ou hemorragias internas

 

Dizem as lendas de Freamunde que a tradição de castrar galos surgiu da necessidade de não os ouvir cacarejar tão cedo pela manhã. Ou que, devido à escassez de cereais, foi proibido o consumo de carne de galinha e, então, os criadores descobriram que, castrando o animal, ele crescia mais sem precisar comer tanto. 

Seja qual for a origem deste ritual, a verdade é que é um procedimento muito antigo e, por isso, classificado como “tradição” e o orgulho da região. O capão de Freamunde é ainda usado por muitos para a ceia de Natal.

É, então, a 13 de Dezembro que anualmente se festeja o ato de comer um ser senciente que foi castrado sem anestesia, com um corte no anus, através do qual alguém introduziu os dedos para lhe roubar os testículos. 

Em Itália, a ONG Essere Animali revelou imagens impressionantes da castração destes animais.  São imagens muito fortes mas é muito importante mostrar o que esconde a produção. Muitas pessoas acreditam que, por ter acesso ao exterior, os animais são felizes, mas é necessário olhar para o processo de produção do inicio ao fim e nunca olhar apenas para o que a publicidade e a desculpa da “tradição” nos vende.

Exploração é exploração e implica sempre abuso de alguém. Vejam como é violento o processo de castração de um galo, apenas para que cresça mais e a sua “carne” seja mais suculenta para os consumidores. Um prato que comes em 10 minutos, justifica o abuso de tantos seres?

Se não fores capaz de ver as imagens até ao final, pedimos que reflitas no seguinte:

Não és capaz de ver as imagens mas és capaz de pagar a alguém para fazer isto?

Clica aqui para ver o vídeo


Vídeo:

Excerto do documentário "Dominion"

Play Video

Créditos fotográficos © Farm Transparency Project / Dominion

Texto da petição:

Pelo fim do abate de pintos machos

Reconhecemos que esta prática é cruel, inaceitável e desumana, devendo ser legalmente proibida. Consideramos ainda que tal método não se justifica e não é coerente com as políticas de Bem-Estar Animal que a indústria e a legislação portuguesa dizem implementar. 

Queremos ver esta prática abolida e incentivos à investigação de tecnologias mais compassivas na indústria.

Atenciosamente,

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