Bem-estar no abate: o atordoamento

Se “bem-estar” e "abate'' não lhe parecem ser palavras que façam sentido estar juntas na mesma frase, na verdade, é porque não são.

Créditos fotográficos (imagem de capa) © Human Cruelties

Façamos, então, uma breve análise acerca de uma das diretrizes na occisão e abate de animais, ou seja, uma das regras de bem-estar definidas por lei, através do Regulamento (CE) nº 1099-2009, para minimizar o sofrimento destas aves no seu caminho para a morte.

Falamos do método de atordoamento. O mais usado na linha de abate é a imersão em tanque de água com choque elétrico.

Atordoamento eficaz?

Antes de mais, convém referir que estes são animais que entram na linha de abate, de cabeça para baixo, pendurados pelas patas que são empurradas contra os ganchos, que as irão segurar no caminho até à sangria. São também seres sencientes que estão muito debilitados de cálcio, a sofrer de osteoporose, muito mais pesados do que o corpo aguenta, aos quais se detectam fraturas frequentes nas patas e bacia. Tendo isto em mente, não é difícil compreender como manusear e prender esses animais pelas patas só irá prolongar e piorar o seu sofrimento.

O tamanho e a forma dos ganchos devem estar “adaptados ao tamanho das patas das aves de capoeira a abater, de modo a que possa ser garantido o contacto elétrico sem causar dor”. O que nem sempre acontece.

Se uma destas aves tiver as patas mais largas, a velocidade da linha de abate não permite que os ganchos sejam ajustados, nem que o trabalho seja submetido a um corte/pausa. Assim, as patas são empurradas de forma a caber e ficarem presas, originando mais sofrimento num animal que já está em stress. Além disso, podem existir aves do mesmo “lote” que não cresceram o suficiente ou que cresceram demasiado [1].

“Sabemos que o atordoamento é calculado para ser eficaz para a grande maioria das aves e haverá sempre algumas mais resistentes.
Todo o processo é claramente extremamente stressante para as aves (…) são agarradas de forma bruta e sem qualquer cuidado (por vezes até causando lesões nas aves) e penduradas pelas patas. Seguem-se alguns metros em que a linha se movimenta até serem parcialmente emergidas num tanque e atordoadas através da corrente elétrica.
Tudo isto acontece a uma grande velocidade, são milhares os animais abatidos por dia, o que significa que não há tempo para parar ou abrandar a linha caso se detecte algo que está menos bem. Isso também influencia o trato dos animais, que são agarrados e colocados na linha de forma pouco cuidada e o mais rápida possível.” 
Aluna de Medicina Veterinária

Isto é um problema para as galinhas mais pequenas, que acabam por não ser submetidas a um método de atordoamento eficaz e ficarão conscientes por todo o processo de abate, como evidencia a imagem ao lado [2], (de um matadouro em Portugal):

Quando isto acontece, os animais estão conscientes na fase do corte do pescoço, como podem ser escaldados vivos no tanque de água quente (cujo intuito é a remoção de penas). Este horror e extremo sofrimento a que a ave é submetida será apenas detectado no post-mortem, pelo estado da carcaça e, sua consequente reprovação.

Como podemos, então, aceitar que existe “bem-estar” quando estamos a falar em matar um ser vivo senciente? O atordoamento é suficiente para aliviar o seu sofrimento? É suficiente para aliviar a nossa consciência?

Sejamos sinceros, existe forma humana de matar um ser que não quer morrer?

Créditos fotográficos © Human Cruelties

Vídeo:

Excerto do documentário "Dominion"

Play Video

Créditos fotográficos © Farm Transparency Project / Dominion

Texto da petição:

Pelo fim do abate de pintos machos

Reconhecemos que esta prática é cruel, inaceitável e desumana, devendo ser legalmente proibida. Consideramos ainda que tal método não se justifica e não é coerente com as políticas de Bem-Estar Animal que a indústria e a legislação portuguesa dizem implementar. 

Queremos ver esta prática abolida e incentivos à investigação de tecnologias mais compassivas na indústria.

Atenciosamente,

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