O European Chicken Commitment e o Escândalo do Lidl

“Todos os dias, mais de 200 milhões de frangos são abatidos para alimentação, número que exclui galinhas poedeiras improdutivas mortas na cadeia de produção de ovos e a matança em massa de pintos machos considerados impróprios para a produção de carne. Isso equivale a mais de 8 milhões de frangos mortos por hora, representando mais de 95% de todos os animais terrestres abatidos para alimentação neste planeta.”.

O European Chicken Commitment (ECC) reúne uma série de medidas que têm como objetivo melhorar as condições de vida que são proporcionadas aos animais explorados para a produção de frango.

Esta carta, assinada por diversas ONG’s europeias de proteção animal, como a francesa L214 e a britânica Humane League, pretende impulsionar a mudança no modus operandi das grandes empresas de distribuição alimentar até 2026.

Em 2022, graças à divulgação de várias investigações dentro de explorações de frango fornecedoras do Lidl, deu-se início a uma campanha de pressão, que contou com o apoio da ADA, e que pede à cadeia de supermercados que assuma este compromisso. Porém, esta não é uma realidade dos fornecedores de um supermercado concreto mas sim a realidade de toda a indústria.

O ECC centra-se em 6 pontos cruciais, que analisamos de seguida:

1. Que as empresas cumpram todas as leis e regulamentos de bem-estar animal da UE

2. Implemente uma densidade máxima de criação de 30kg/m2 ou menos. O abate antecipado é desencorajado e, se praticado, deve ser limitado a um por lote.

A densidade dos pavilhões é determinante. Quanto mais aves se concentram no mesmo espaço, maior é o risco de stress, agressividade e doenças. Essencialmente, o que esta medida exige é que essa densidade seja controlada para 30 kg/m2 (que atualmente pode chegar aos 42 kg/m2 na UE), isto é, 25 aves (2kg cada) por m2. 

3. Adotar raças de demonstram melhores resultados de bem-estar

O frango vendido atualmente é 4 a 6 vezes maior do que o frango vendido nos anos 60, devido a toda a seleção genética a que foi submetido. Estas aves crescem tão rapidamente que este é um dos pontos mais críticos no seu bem-estar. Assim, um dos principais focos dos grupos defensores do bem-estar destes animais de produção é que se opte por substituir a produção destas aves, por outras de crescimento mais lento.
Raças de crescimento mais lento são o resultado do cruzamento de uma fêmea de crescimento lento com um macho de crescimento lento ou crescimento rápido.

Contudo, embora seja perceptível a diferença que esta mudança trará, continua a manipular a genética e os nascimentos destas aves, é ético? E quem mais irá lucrar com esta mudança? A ave, que vive mais dias numa exploração e cujo destino continua a ser o abate? Ou as empresas de criação de raças-mães?

Por um lado, o animal não cresce a uma velocidade tão rápida como o frango atual e, assim, não irá contrair com a mesma intensidade, as doenças mais comuns dos animais explorados atualmente (como ossos quebrados, osteoporose, doenças cardíacas-respiratórias, claudicação…).

O Projeto Welfare Footprint lançou, em 2022, o resultado do estudo que quantifica a dor nos animais explorados para produção de frango.

Mas… Como quantificar a dor?

Foi desenvolvida uma estrutura/métrica para descrever e quantificar a dor dos animais, centrando-se na duração e na intensidade dessa dor.

Sendo que a maioria dos problemas em garantir o bem-estar dos frangos está fortemente associada ao crescimento rápido, “a adoção de raças de crescimento mais lento não apenas reduz a incidência desses problemas, como também retarda seu início. Como consequência, espera-se que as aves de crescimento mais lento experimentem um tempo de dor menor, antes de serem abatidas”. Ou seja, “em geral, quanto mais lenta a taxa de crescimento, menor o tempo cumulativo de experiência de dor ao longo da vida”, apesar de viver mais tempo.

Por outro lado, mesmo não desenvolvendo todas as doenças que atualmente os frangos desenvolvem, nem sofrendo o mesmo nível de dor, a exploração continua a ter o mesmo significado. Na dúvida, basta uma rápida consulta em um qualquer dicionário para obter a designação.

Exploração é o ato de tirar proveito de algo ou alguém; abuso de outrem para auferir benefícios.

4. Melhorar as condições de ambiente/enriquecimento
   1. Aqui são dadas orientações relacionadas com a luz, a qualidade do ar, a ausência de gaiolas ou sistemas multicamadas e a disponibilização de poleiros dentro dos pavilhões. Os galináceos têm determinados comportamentos que se traduzem naquelas que são as necessidades básicas da espécie. Uma delas está precisamente relacionada com poleiros e, embora seja positivo que se pressione as empresas a disponibilizar este recurso, é solicitado no ECC que se garanta, pelo menos, 2m de espaço de poleiro por cada 1000 aves. É pedir muito?!

5. Adotar o atordoamento controlado usando gás inerte ou sistemas multifásicos, ou atordoamento elétrico eficaz sem inversão.

É sabido que o atordoamento elétrico nem sempre funciona. Contudo, este é o método mais usado na UE (80% das aves são submetidas a este procedimento na linha de abate). O ECC exige que sejam tomadas medidas para garantir que esse atordoamento é de facto eficaz ou que seja adotado o atordoamento em atmosfera controlada. Isto significa que as aves não precisam ser manuseadas pelos funcionários dos matadouros (evitando, assim, que sofram com o manuseamento menos adequado), nem serão penduradas pelas patas pelos ganchos, na linha de abate. Significa também que serão atordoadas e abatidas em câmaras de gás.

6. Auditorias por terceiros

Contudo, cabe às próprias empresas definir quem será o responsável por essas auditorias.

Estas são as exigências do ECC. Estas são as linhas orientadoras definidas para garantir o máximo de bem-estar possível a estas aves. Dar-lhes o espaço de (quase) duas folhas A4 para viver toda a sua vida; manipular e controlar a sua genética e o seu nascimento; colocá-las em câmaras de gás… é mesmo isto o melhor que podemos fazer por elas?

Na ADA acreditamos que o respeito pela senciência destas aves e o reconhecimento do direito que elas têm à vida, pode ir mais longe, adotando mudanças que estão tão perto. O bem-estar só existirá quando a exploração acabar.

Nota: acerca deste tema, recomendamos assistir a este vídeo do ativista Luís, o Vegano, que tão bem explica as limitações destes certificados/acordos.